Os Caminhos do Carma
A vida de todo ser humano no universo possui quatro aspectos práticos: 'Dharma' (o princípio da ordem cósmica), 'Karma' (o princípio espiritual de causa e efeito), 'Prema' (o conceito de amor elevado) e 'Gyana' (conhecimento). Destes, o karma é o mais discutido; é também o mais incompreendido. “Karma” significa literalmente “ação” ou “ato”, e, em sentido mais amplo, designa o princípio universal de causa e efeito, ação e reação, que os hindus acreditam governar toda a consciência.
O Gita diz: “Gahana Karmano Gatih” – imensuráveis são os caminhos do karmaKarma é um conceito do hinduísmo que explica a causalidade através de um sistema onde os efeitos benéficos derivam de boas ações passadas e os efeitos nocivos de más ações passadas, criando um sistema de ações e reações ao longo das vidas reencarnadas de uma alma, formando um ciclo de morte e renascimento. Diz-se que essa causalidade se aplica não apenas ao mundo material, mas também aos nossos pensamentos, palavras, ações e às ações que outros realizam sob nossas instruções. Quando esse ciclo de morte e renascimento chega ao fim, diz-se que a pessoa alcançou Moksha ou a Salvação. O ciclo de nascimento e morte na Terra é formado por 8,4 milhões de formas de vida, mas somente na vida humana é possível sair desse ciclo.
4 Caminhos do Carma
Karma não é destino. De acordo com os Vedas, se semearmos o bem, colheremos o bem; se semearmos o mal, colheremos o mal. Karma refere-se à totalidade de nossas ações e suas reações concomitantes nesta e em vidas passadas, que determinam nosso futuro. A conquista do karma reside na ação inteligente e na reação imparcial. Nem todo karma se manifesta imediatamente. Alguns se acumulam e retornam inesperadamente nesta ou em outras vidas. Diz-se que os seres humanos produzem karma de quatro maneiras:
- Por meio de pensamentos
- Por meio de palavras
- Por meio de ações que nós mesmos realizamos
- Por meio de ações que outros realizam sob nossas instruções.
Tudo o que já pensamos, falamos, fizemos ou causamos é karma, assim como aquilo que pensamos, falamos ou fazemos neste exato momento.
3 Tipos de Carma
As escrituras hindus dividem o karma em três tipos:
- Prarabdha Karma – Karma como ação.
- Sanchita Karma – Karma latente.
- Agami Karma – Karma como resultado.
Prarabdha Karma
Prarabdha Karma significa 'iniciado'; a ação que já está se manifestando e que está produzindo seus efeitos agora. Esse karma frutífero é a porção do karma acumulado que "amadureceu" e aparece como um problema ou oportunidade específica na vida presente. Você não pode evitá-lo ou mudá-lo, pois já está acontecendo.
Sanchita Karma
O karma sanchita é um karma acumulado. Ele se manifesta de forma latente ou como uma tendência ou impressão na mente. Desse estoque de karma sanchita, uma pequena porção é retirada para servir a uma vida inteira. O karma sanchita pode ser purificado por meio de práticas espirituais antes de se manifestar.
Agami Karma
Agami Karma é o karma futuro da ação; aquilo que ainda não aconteceu e que terá efeito no futuro. Se você cometer um crime, pode não ser pego hoje, mas viverá com a possibilidade de ser pego um dia. Ações realizadas conscientemente têm um peso maior do que as realizadas inconscientemente. Com base nisso, alguns acreditam que apenas os seres humanos, capazes de distinguir o certo do errado, podem gerar karma. Portanto, animais e crianças pequenas são considerados incapazes de criar novo karma, pois são incapazes de discernir entre o certo e o errado. Assim, eles não podem influenciar seus destinos futuros. Essa visão é explicada pelos conceitos de Karma-deha (corpo de ação) e Bhoga-deha (corpo de plenitude).
A alma em um corpo Bhoga-deha desfruta ou sofre as consequências de atos anteriores. Portanto, o Bhoga-deha é considerado qualquer corpo não humano; uma planta, um animal, um inseto etc. Este corpo destina-se unicamente à queima do karma. Um animal, estando sob o controle completo da Natureza, suas influências e energia, é, portanto, considerado incapaz de criar novo karma. O Karma-deha refere-se ao corpo humano. É no corpo humano que podemos e criamos karma. É no corpo humano que somos responsabilizados por nossas ações, devido ao fato de podermos exercer o livre-arbítrio com base em nossa inteligência desenvolvida.
A única maneira de romper o ciclo da existência material
A única maneira de romper o ciclo da existência material é através da forma humana, o 'karma-deha', mas é na forma humana que temos maior probabilidade de criar karma negativo, o que nos lança de volta a um corpo 'bhoga-deha' e nos mantém presos aos efeitos do karma, que são experimentados como prazer e dor. E assim como o veneno nos afeta mesmo se ingerido sem saber, o sofrimento causado involuntariamente também criará um efeito cármico apropriado. O karma também está sempre limitado pelo tempo, porque toda ação tem uma reação limitada. Se você fizer algo de bom para as pessoas, elas virão lhe agradecer e lhe serão gratas enquanto estiverem experimentando o efeito de sua ação. Portanto, o karma tem apenas uma esfera limitada de efeito, seja ele bom ou ruim.
Frequentemente nos perguntamos: "Por que as pessoas boas sofrem enquanto aquelas que cometem injustiças ficam impunes?" Essas perguntas surgem quando analisamos um evento em seu contexto limitado. Nenhuma boa ação produzirá um mau resultado e nenhuma má ação trará um bom resultado. Essa é a lei do karma. Colhemos o que plantamos. Se plantarmos uma mangueira, alguns arbustos espinhosos podem surgir devido às sementes presentes no adubo trazido de outro lugar. Não é a semente da manga que dá origem ao arbusto espinhoso. Sua semente de manga produzirá mangas, no devido tempo.
Nossa percepção do sofrimento, do bem e do mal, é sempre relativa. A consciência do dharma ajuda a compreender os caminhos complexos do karma. Sempre que você vir alguém sofrendo, você precisa ajudá-lo. Esse é o seu dharma. Se você não cumprir o seu dharma, você acumulará karma negativo por não tê-lo cumprido. Viva com o karma; não se apegue a ele. "Veja a ação na inação e a inação na ação", diz o Bhagavad Gita. Consciência, atenção plena, conhecimento e meditação ajudarão a apagar impressões passadas. Eles têm o poder de dissolver e destruir qualquer karma e libertá-lo. De acordo com o hinduísmo, "Nosso destino foi moldado muito antes do corpo existir". Enquanto houver estoque de karma sanchita, uma parte dele continuará sendo extraída como karma prarabdha para ser desfrutada em uma vida, levando ao ciclo de nascimento e morte. Um ser humano não pode alcançar Moksha (libertação) do ciclo de nascimento e morte até que os karmas sanchita acumulados sejam completamente esgotados.
Palavras Finais
O ciclo de nascimento e morte na Terra é formado por 8,4 milhões de formas de vida, das quais apenas uma é a humana. Somente como humanos estamos em posição de influenciar nosso destino, fazendo a coisa certa no momento certo. Através de ações positivas, pensamentos puros, oração, mantras e meditação, podemos resolver... os caminhos do karma na vida presente e podemos direcionar nosso destino para melhor. Um mestre espiritual que conheça a sequência em que nosso karma dará frutos pode nos ajudar. Como seres humanos, temos a oportunidade de acelerar nosso progresso espiritual com a prática do bom karma. Produzimos karma negativo porque nos falta conhecimento e clareza. A maldade produz frutos estragados, chamados paap, e as boas ações trazem frutos doces, chamados punya. Nos tornamos aquilo que agimos: tornamo-nos virtuosos por meio de ações virtuosas e maus por meio de ações más. O karma é o que impulsiona a reencarnação. Quanto mais forte a impressão, maior a possibilidade de a próxima vida ser condizente com ela. Assim, muitas vezes você reencarna como a pessoa que você ama ou odeia. A mente, repleta de diferentes impressões, deixa este corpo, mas essas impressões aguardam situações propícias para retornar. Portanto, o pensamento final é muito importante. Independentemente do que você faça ao longo da vida, no último momento sua mente deve estar livre e feliz.
